segunda-feira, 4 de maio de 2015

Elegia De Augusto Dos Anjos / CINZA DOS OSSOS * Antonio Cabral Filho - Rj

CINZA DOS OSSOS
*
Elegia de Augusto dos Anjos

Fui ler Augusto dos Anjos,
Mas assim, logo de cara,
Fiquei que nem os arcanjos
Caçando “Escarlete Ohara.”

Pareceu-me um Frankenstein,
Drácula sem Baviera;
Por mais que vocês estranhem,
Achei pior do que era.

Mas depois eu me dei conta...
Tanta riqueza lingüística
Cuspida por gente tonta,

Sem apreço com estilística;
Fora os burros sem cabresto
Aos coices pelos seus textos. 

*

domingo, 3 de maio de 2015

DAZIBAO / CINZA DOS OSSOS * Antonio Cabral Filho - Rj

CINZA DOS OSSOS
*
Dazibao


Mão na cama
Só fez
Deng
Deng
Deng

Mao nas marchas
Só fez
Xiao
Xiao
Xiao

Mao no poder
Só fez
Ping
Ping
Ping

Mao na história
 Só fez
Tian
Tian
tiAn
M
E
M

sábado, 2 de maio de 2015

BÃO DE QUEBRA / CINZA DOS OSSOS * Antonio Cabral Filho - Rj

CINZA DOS OSSOS
*
Bão de Quebra

Meu pai foi catireiro;
Dos bão de quebra.
Dava a tarde, montava
O alazão coberto de tralhas
E partia.
Levava revórve, garrucha,
Pomada chinesa, relóge
De gringo, jóia de cigano,
Perfume francês, e às vezes,
O Chico, seu galo de rinha,
Ia de quebra.
Lá pelas tantas, voltava
Tonto, cercando poico
Na madrugada escura.
Diz que vendia inté a mãe,
Só não entregava.

*

sexta-feira, 1 de maio de 2015

FAIXA DE GAZA / CINZA DOS OSSOS * Antonio Cabral Filho - Rj

CINZA DOS OSSOS
*
 Faixa de Gaza

Nos recreios da escola
Pintava sempre um briga
Pra divertir a galera.

Aí eu riscava
Uma linha no chão e gritava:
- “Qué brigá pisa qui !”

E abria-se logo uma roda
De platéia para os brigões.

Mas às vezes era rixinha,
Coisa pouca para uma briga,
Então eu riscava a linha no chão
E cuspia: “Qué apanhá, pisa qui !”

E sem saber nada de guerra
Nem de oriente médio,
Eu tinha inventado a “Faixa de Gaza.”

*

quinta-feira, 30 de abril de 2015

MORBIDEZ / CINZA DOS OSSOS * Antonio Cabral Filho - Rj

CINZA DOS OSSOS
*
Morbidez

Meu poema e eu
Somos como o amor
De Rometa e Julieu.
Só nos sentimos bem
Graças à comoção
Que vitimou Orfeu.

É como sofrer do mal
Que sofrem o boi
E o olho do dono:
Sem o outro,
Um não é nada.

quarta-feira, 29 de abril de 2015

terça-feira, 28 de abril de 2015

Dia De Volta Às Aulas / CINZA DOS OSSOS * Antonio Cabral Filho - Rj

CINZA DOS OSSOS
*
Dia de Volta às Aulas

Perdoem-me todos
Que se tornaram estéreis
E perderam tudo,
Até a nobreza
de crer nos sonhos.

É que nunca viram
Um dia de volta às aulas
Com suas nuvens de anjos
Que marcham vergados
Sob as mochilas
Plenas de utopia.

*

segunda-feira, 27 de abril de 2015

RUA DAS MARGARIDAS / CINZA DOS OSSOS * Antonio Cabral Filho - Rj

CINZA DOS OSSOS
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Rua das Margaridas

A Rua das Margaridas
Não era a Rua da Praia,
Não era a Rua da Feira,
Não era a Rua Principal
E muito menos
A Rua das Flores.

A Rua das Margaridas
Era a Rua dos Amores,
Era a Rua das Perdidas,
Era a rua onde as mulheres
Encontravam “vida fácil.”

A Rua das Margaridas
Era a rua onde os homens
Temperavam seus suores
No sal do prazer sem lei,

Era a rua onde os velhos
Beliscavam as mulheres
E apanhavam sem pudor,

Era a rua onde a molecada
Jorrava sonhos eróticos
E acordava melecada.

A Rua das Margaridas
Nunca teve sua história
Cantada em verso ou em prosa,

Mas por causa de um PM
Que matou uma prostituta,
O mundo inteiro se chocou...

A Rua das Margaridas
Não tinha esse nome não;
Quem lhe deu esse apelido
Foi o Doca, meu irmão.

A Rua das Margaridas
Sabia de nossas vidas...
Hoje, a Rua das Margaridas
Virou um cartão postal.

*

domingo, 26 de abril de 2015

Poetando A Quatro Mãos / CINZA DOS OSSOS * Antonio Cabral Filho - Rj

CINZA DOS OSSOS
*
Poetando a Quatro Mãos (*)

A tarde está cinzenta
Qual alma a vaguear,
Acendo um Hollywood,
Mil sonhos a tragar.

Sento, sinto silêncio,
Não sei o que escrever,
Cansaço bate no peito,
Mulher, não sei que fazer.

Releio o que escrevi
Numa tarde cinzenta,
Sem saber o que se inventa
Sem se ter pra onde ir.

Se busco, busco e busco,
Perdido na multidão
Na poesia me encontro,
Mergulho com decisão.

·       Poema escrito em parceria com Semíramis Reis.

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sábado, 25 de abril de 2015

CESSAR FOGO / CINZA DOS OSSOS * Antonio Cabral Filho - Rj

CINZAS DOS OSSOS
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Cessar Fogo

Alto lá com as armas!
Parem todos, calma.
Doravante nem mais
Um disparo sequer,
Por nada!
Descobrimos a chave
Dos conflitos
E quanto aos supostos
Inimigos, perdoemo-los todos!
Eles não sabem que suas armas
Estão carregadas de medo...

*

sexta-feira, 24 de abril de 2015

QUINTAIS DA REALEZA / CINZA DOS OSSOS * Antonio Cabral Filho - Rj

CINZA DOS OSSOS
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Quintais da Realeza

O rei à janela
Festeja o pavonear do pavão
Desfilando entre as fêmeas,
Soltando pavoneios...
O pavão espia de soslaio
O festejo do rei à janela
E confere seu harém,
Enquanto o escravo à distância
Encostado à vassoura,
Balbucia entre dentes:
- Quem recheia a panela hoje?

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quinta-feira, 23 de abril de 2015

TRANSE / CINZA DOS OSSOS * Antonio Cabral Filho - Rj

CINZA DOS OSSOS
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Transe

É o inusitado, o insólito,
Que de repente acontece,
Vem à tona, salta
 de detrás das pálpebras,
surge das manchas escuras
dos piscares de olhos
e sobe às alturas,
dominando as atenções
e deixa todos estarrecidos,
presos ao magnetismo do momento.
Aí esquecem de tudo
E saem tropeçando
em suas próprias sombras,
caindo e se machucando,
insensíveis
como a multidão em fuga.

*

quarta-feira, 22 de abril de 2015

ME DISSERAM / CINZA DOS OSSOS * Antonio Cabral Filho - Rj

CINZA DOS OSSOS
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Me Disseram

Eu menino me disseram
Que eu era HOMEM
Com todas as letras maiúsculas,

Que eu teria uma mulher
Com a qual me casaria
E seríamos felizes para sempre.

Porém, eu descobri
 o AMOR e a LIBERDADE
E percebi que o amor é solteiro
E a liberdade não se casa com ninguém.

Em seguida me disseram
Que todos tinham religião
E me venderam um deus
A que eu seguiria para sempre.

No entanto, eu notei
Que haviam muitos templos
Tantas tendas onde comprar-se um deus
Que eu desisti
E fui tachado de ateu.

Depois disseram-me
Que todos tinham ideologia
E venderam-me um partido
No qual eu ingressaria
E S P O N T A N E A M E N T E
E a ele serviria enquanto eu quisesse.
Tornei-me então violento ativista
Mas constatei que todos tinham que ser iguais
E que ser a si próprio era impossível,

Até que um dia me avisaram
Que eu estava fora do partido
E que eu não era comunista.

Desde então venho notando
Que todas as coisas têm um preço
E que eu não posso comprar nada
De tudo que tentam vender-me,

E mesmo assim
O show business
Não quer deixar-me em paz
Por onde quer que eu passe.

Como é possível
Numa mesma praça
De um lado um religioso
Fantasiado de Cristo
Servindo paz celestial

E do outro um Tartufo
Em comício eleitoral
Ofertando Streep-tease
Em troca de voto?

Agora restou a pecha:
Dizem que sou anarquista.

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terça-feira, 21 de abril de 2015

Respostas De Um Operário Que Lê / CINZA DOS OSSOS * Antonio Cabral Filho - Rj

CINZA DOS OSSOS
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Respostas de um Operário que Lê

Eu é que cultivo a terra
E a colheita é do patrão.
Eu é que levo carretas de alimentos
Para encher supermercados
E é meu o estômago roendo de fome.
Eu é que produzo os carros de luxo
Que deslizam nas ruas deste país
E eu é que morro no ônibus batido
Ou no trem descarrilado.
Eu é que construo os arranha-céus desta cidade
E eu é que moro no casebre do alto da favela.
Eu é que faço a segurança das mansões
E eu é que sou roubado
Por um pobre mais pobre que eu
Que leva meu bujão de gás
Ou meu dvd de promoção
E troca por uma pedra de craque.
Eu é que ergo tantos hospitais
E na hora do meu infarto
Eu é que morro sem atendimento.
Eu é que forneço tantos homens aos exércitos
Mas na hora do meu grito
É minha a revolta que eles sufocam.
Eu é que sou o motivo do aplauso
No discurso dos meus líderes
E eu é que sou proibido
De subir ao palanque
Porque sou analfabeto.
Eu é que faço tantas perguntas
E também sou eu que fico sem respostas...
Até quando?

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segunda-feira, 20 de abril de 2015

Poema Do João Tim / CINZA DOS OSSOS * Antonio Cabral Filho - Rj

CINZA DOS OSSOS
*
Poema do João Tim

O poço fundo forrado de musgo
E cheio d’agua
Não reflete nem revela
O rosto do homem

                              Alheio
Ao que se passa em Soweto
Entre Zulus e Inkatas
Na terra de Mandela,

                              Alheio
 A lutas separatistas
Entre povos de algum país europeu
E desconhece existência e situação
De povos árabes e indochineses
Nos anos noventa do século vinte.
Sequer imagina
O que seja América Latina
Com seu mundo de classes
Em que se dividem os homens.
                                Lá

No fundo vale
Sentado sobre uma pedra
À margem do poço
Cercado de bananeiras
O homem alheio a tudo
Esfrega sabão de barra
Em sua roupa suarenta.

                                 O vento brinca
Nas folhas secas e sacode as árvores
                                  Algo desperta
O velho e alheio lavrador
                                  Um barulho sorrateiro
Nas folhas do bananal misturado ao som do vento
Não é um assassino
                                   Nem um guerrilheiro
De alguma montanha latinoamericana não.

É uma cascavel
Se camuflando
para jantar algum animal
que venha beber água...

Chegou a hora de cortar fumo
E fazer o cigarro de palha
Para espantar essa fera...

*

domingo, 19 de abril de 2015

Elegia Da Preta Efigênia / CINZA DOS OSSOS * Antonio Cabral Filho - Rj

CINZA DOS OSSOS
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Elegia da Preta Efigênia

Morreu a doceira da esquina
Da esquina da rua principal
Com a avenida central.

Morreu a Preta Efigênia
Mulher do João Salvador
Mãe de dezessete filhos
Avó de trinta netos
E bisa não sei de quantos.

Morreu de coma diabética
E ainda veio a saber-se
Que era empregada doméstica
Na casa de um doto
Desses de cargo importante
Num ministério desses.

Mas morreu a doceira da esquina
Morreu a Preta Efigênia
Morreu de como diabética
No hospital municipal
Por falta de atendimento

E deixou João Salvador
Sem a Preta Efigênia
Doceira e empregada doméstica
Na casa de um doto desses
Sem José e sem Dummond
Pra romantisar sua dor.

Agora João, chora seu banzo,
Mas não vai ficar por aí
Se afogando no copo
De cabeça ao vento
Pensando que a nega
Mudou de ponto.
Dá um breque, nego.
Morreu a Preta Efigênia.

*

sábado, 18 de abril de 2015

Notícia Pentecostal / CINZA DOS OSSOS * Antonio Cabral Filho - Rj

CINZA DOS OSSOS
*
Notícia Pentecostal

O pastor aos berros
Prova por tudo que é sacro
Que Jesus te ama.
A cada palavra que diz
O sonoplasta eleva o volume
E todos saem correndo
Em direção ao templo.
Logo uma multidão implora,
Ante o pastor,
Não pelo amor de Cristo,
Mas para que baixem o som.

*

sexta-feira, 17 de abril de 2015

NOTÍCIA DE ONTEM / CINZA DOS OSSOS * Antonio Cabral Filho - Rj

CINZA DOS SSOS
*
Notícia de Ontem

O Pé-de-Cana
Foi à esquina
E fechou o boteco,
Depois saiu
Batendo cabeça
Como uma vaca
Em noite de tempestade.
Na manhã seguinte
Todo o bairro soube
Que o Pé-de-Cana
Estava estirado
No meio da rua.
Não tinha morrido não.
Apenas curtia seu porre
Em profundo sono etílico.

*

quinta-feira, 16 de abril de 2015

TEDIÁRIO / CINZA DOS OSSOS * Antonio Cabral Filho - Rj

CINZA DOS OSSOS
*
Tediário

Minha história
Tu sabes de cor,
Todo dia eu chego
Com meu cansaço de sempre
E te encontro cheia de amor
E teu beijo sempre mais quente
Me devolve as energias.
Aí a gente avalia o nosso dia
E chega à conclusão do dia anterior,
Que não tem nada de novo.
A gente janta e vai dormir
E de manhã te conto
Os sonhos malvados que tive contigo
E tu me contas os teus,
Então combinamos de realizá-los
À noite quando eu chegar.
Mas é como tu já sabes,
O meu dia foi pesado,
Eu chego arreado,
Sem poder dar-te carinho.
E dia após dia
Durante a nossa vida
É isso...
Até já decidimos dar um basta nisso e...
Ninguém sabe como
Quem sabe fugir
Para uma ilha distante
De tudo e de todos
E relaxar...

*

quarta-feira, 15 de abril de 2015

NAVELUA / CINZA DOS OSSOS * Antonio Cabral Filho - Rj

CINZA DOS OSSOS
*
Navelua

Vinte e três horas,
Noite de lua cheia,
Primavera de mil novecentos
E noventa e oito,
O corpo cansado
Insiste em mostrar-se jovem,
Quer dançar rock,
Lambada e tenta...

Há uma mulher que vive(?) ao meu lado,
Diz que me ama(?), me admira,
Fica encantada comigo dançando
E quer dançar também...
As crianças se emocionam
E todos juntos dançamos
Agarrados uns aos outros
Numa alegria fugaz...

Creio que todos fomos abduzidos
Pelos poderes místicos
Da noite enluarada
E sem mais nos vimos dançando na rua,
Mas acabou-se a música e nos sentamos ao chão
Com as crianças entre nós...

Aí meu filho olhou para a lua
E perguntou pensativo:
- Eu posso entrar dentro dela pai?

*

terça-feira, 14 de abril de 2015

CÃO SEM DONO / CINZA DOS OSSOS * Antonio Cabral Filho - Rj

CINZA DOS OSSOS
*
Cão Sem Dono


Hoje,
        Eu não consigo ler poesia
        E suspiro exausto com o livro
        De qualquer poeta.
Hoje,
        Eu não alugo a minha cabeça
        Para aturar o porre de ninguém
        E me fecho como aranha
        Que prepara o bote
        Pra pegar a mosca
        Desatenta que a rodeia.
Hoje,
        Eu não consigo ficar parado
        Olhando a paisagem
        Entumecida de contradições
        À espera de mudanças no cenário.
Hoje,
         Eu não vou esperar que as pedras
         Rolem pelo caminho em busca do limo
         Até encontrarem-se ao sabor do acaso,
         Se acaso existe...
Hoje,
         Eu tenho que sair danado
         Sem bagagem e despedida
         Como um cão sem dono
         E farejar o mundo
         Atrás de um osso pra roer.

*

segunda-feira, 13 de abril de 2015

MULHER / CINZA DOS OSSOS * Antonio Cabral Filho - Rj

CINZA DOS OSSOS
*
  Mulher

Mulher, flor em fogo,
Mergulha-te em mim,
Ser insaciável,
Devora-me que eu te decifro
E seremos um só ser em chamas
De morro acima
Com o vento a favor
Em temperatura máxima
E nossas cinzas serão labaredas
Em que ser algum
Deixará de queimar-se.

*

domingo, 12 de abril de 2015

TOCAIA / CINZA DOS OSSOS * Antonio Cabral Filho - Rj

CINZA DOS OSSOS
*
Tocaia

Espero em silêncio
Como fera domada
Ante o seu senhor.
Olho ao redor,
O mundo é cinzento e indiferente
Às mortes, nascimentos, abortos,
Fluxos menstruais, orgasmos...
Fico extasiado:
Nem alegria nem tristeza.
Estado indefinido...
Apenas o silêncio à minha volta
E espero silente,
Como fera domada,
Mas pronta pra dar o bote
Na jugular do domador.

*

sábado, 11 de abril de 2015

INOCÊNCIA / CINZA DOS OSSOS * Antonio Cabral Filho - Rj

CINZA DOS OSSOS
*
Inocência

Todos me matam
E eu tenho por dever
Que agradecer a todos
Pela parcela de morte
Que me fornecem
Nos anticoncepcionais
E nas balas, pedidas ou não.

Assim sou aquele
Que tomba a todo instante
E que é encontrado arrastando
Os seus próprios restos
Por entre os escombros
De nossas aventuras,

Mas que por desconhecer
A própria fragilidade,
Desconhece também o medo...

*

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Do Pobre Arlequim / CINZA DOS OSSOS * Antonio Cabral Filho - Rj

CINZA DOS OSSOS
*
Do Pobre Arlequim

Nasci ao sopé das montanhas,
Lá onde terminam os bosques
E as florestas se adensam.

Bem cedo aprendi a brincar
Com os habitantes desse mundo
Onde reinam Sacis e Iaras.

Ainda menino fui pras cidades
Sem seio de mãe nem ombro de pai,
Órfão de noite e de dia.

Segui sempre o senfim dos caminhos
E a poeira das estradas
Tingiu de vermelho os meus sonhos.

E o ronco do motor dos caminhões
É que ninou a soneca do menino
À sombra dos arbustos solidários.

Meu prato requentado e rápido
Eu soube sempre o seu sabor de sal
Temperado de relento e sol.


Na cidade sou um peixe fora d’agua
E vez por outra ponho-me frente aos bares
Perscrutando por que essa gente bebe tanto.

O meu amor não sabe o pranto
Tão fartas comigo foram as mulheres francas
Em darem-se inteiras e detalhes tantos.


Não prometo ser algum dia um gentleman,
Mas eu não mijo calçada a fora
Após uns chopes com steinhägen.

*