terça-feira, 21 de abril de 2015

Respostas De Um Operário Que Lê / CINZA DOS OSSOS * Antonio Cabral Filho - Rj

CINZA DOS OSSOS
*
Respostas de um Operário que Lê

Eu é que cultivo a terra
E a colheita é do patrão.
Eu é que levo carretas de alimentos
Para encher supermercados
E é meu o estômago roendo de fome.
Eu é que produzo os carros de luxo
Que deslizam nas ruas deste país
E eu é que morro no ônibus batido
Ou no trem descarrilado.
Eu é que construo os arranha-céus desta cidade
E eu é que moro no casebre do alto da favela.
Eu é que faço a segurança das mansões
E eu é que sou roubado
Por um pobre mais pobre que eu
Que leva meu bujão de gás
Ou meu dvd de promoção
E troca por uma pedra de craque.
Eu é que ergo tantos hospitais
E na hora do meu infarto
Eu é que morro sem atendimento.
Eu é que forneço tantos homens aos exércitos
Mas na hora do meu grito
É minha a revolta que eles sufocam.
Eu é que sou o motivo do aplauso
No discurso dos meus líderes
E eu é que sou proibido
De subir ao palanque
Porque sou analfabeto.
Eu é que faço tantas perguntas
E também sou eu que fico sem respostas...
Até quando?

*

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