domingo, 19 de abril de 2015

Elegia Da Preta Efigênia / CINZA DOS OSSOS * Antonio Cabral Filho - Rj

CINZA DOS OSSOS
*
Elegia da Preta Efigênia

Morreu a doceira da esquina
Da esquina da rua principal
Com a avenida central.

Morreu a Preta Efigênia
Mulher do João Salvador
Mãe de dezessete filhos
Avó de trinta netos
E bisa não sei de quantos.

Morreu de coma diabética
E ainda veio a saber-se
Que era empregada doméstica
Na casa de um doto
Desses de cargo importante
Num ministério desses.

Mas morreu a doceira da esquina
Morreu a Preta Efigênia
Morreu de como diabética
No hospital municipal
Por falta de atendimento

E deixou João Salvador
Sem a Preta Efigênia
Doceira e empregada doméstica
Na casa de um doto desses
Sem José e sem Dummond
Pra romantisar sua dor.

Agora João, chora seu banzo,
Mas não vai ficar por aí
Se afogando no copo
De cabeça ao vento
Pensando que a nega
Mudou de ponto.
Dá um breque, nego.
Morreu a Preta Efigênia.

*

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