CINZA DOS OSSOS
*
Poema do João Tim
O poço fundo forrado de musgo
E cheio d’agua
Não reflete nem revela
O rosto do homem
Alheio
Ao que se passa em Soweto
Entre Zulus e Inkatas
Na terra de Mandela,
Alheio
A lutas separatistas
Entre povos de algum país europeu
E desconhece existência e situação
De povos árabes e indochineses
Nos anos noventa do século vinte.
Sequer imagina
O que seja América Latina
Com seu mundo de classes
Em que se dividem os homens.
Lá
No fundo vale
Sentado sobre uma pedra
À margem do poço
Cercado de bananeiras
O homem alheio a tudo
Esfrega sabão de barra
Em sua roupa suarenta.
O vento brinca
Nas folhas secas e sacode as árvores
Algo desperta
O velho e alheio lavrador
Um barulho sorrateiro
Nas folhas do bananal misturado ao som do vento
Não é um assassino
Nem um guerrilheiro
De alguma montanha latinoamericana não.
É uma cascavel
Se camuflando
para jantar algum animal
que venha beber água...
Chegou a hora de cortar fumo
E fazer o cigarro de palha
Para espantar essa fera...
*
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