segunda-feira, 20 de abril de 2015

Poema Do João Tim / CINZA DOS OSSOS * Antonio Cabral Filho - Rj

CINZA DOS OSSOS
*
Poema do João Tim

O poço fundo forrado de musgo
E cheio d’agua
Não reflete nem revela
O rosto do homem

                              Alheio
Ao que se passa em Soweto
Entre Zulus e Inkatas
Na terra de Mandela,

                              Alheio
 A lutas separatistas
Entre povos de algum país europeu
E desconhece existência e situação
De povos árabes e indochineses
Nos anos noventa do século vinte.
Sequer imagina
O que seja América Latina
Com seu mundo de classes
Em que se dividem os homens.
                                Lá

No fundo vale
Sentado sobre uma pedra
À margem do poço
Cercado de bananeiras
O homem alheio a tudo
Esfrega sabão de barra
Em sua roupa suarenta.

                                 O vento brinca
Nas folhas secas e sacode as árvores
                                  Algo desperta
O velho e alheio lavrador
                                  Um barulho sorrateiro
Nas folhas do bananal misturado ao som do vento
Não é um assassino
                                   Nem um guerrilheiro
De alguma montanha latinoamericana não.

É uma cascavel
Se camuflando
para jantar algum animal
que venha beber água...

Chegou a hora de cortar fumo
E fazer o cigarro de palha
Para espantar essa fera...

*

Nenhum comentário:

Postar um comentário