quinta-feira, 9 de abril de 2015

SONO PROLETÁRIO / CINZA DOS OSSOS * Antonio Cabral Filho - Rj

CINZA DOS OSSOS
*
Sono Proletário

Viajo incômodo
No banco do ônibus
E logo me vejo vergado pelo sono,
Sono insólito
Surgido das penumbras do cansaço
Que com seu ataque súbito
Domina todo meu ser
E me conduz involuntário
A ouvir seu som de flauta.

Sinto inútil a luta que travo
Contra o poder do seu feitiço,
E vencido vejo-me
Ante um anjo de neve.
Ensaio a fuga e de várias direções
Surge o anjo insinuando-se pra mim
Com suas asas imensas.
De fronte erguida e olhar distante,
Noto que avanço por uma rua molhada
Calçada de pedras portuguesas,
E inesperadamente afundo o pé na lama
E o anjo põe-se diante de mim.
Percebo seu semblante pedindo-me calma...

Súbito ouço um barulho,
É o cobrador comunicando o fim da linha
E concluo que a poesia é assim mesmo:
Um ser intrépido e sem forma
Que nos ataca sem aviso prévio
E faz-nos prisioneiros
De emoções estranhas.

*

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