quinta-feira, 30 de abril de 2015
quarta-feira, 29 de abril de 2015
terça-feira, 28 de abril de 2015
segunda-feira, 27 de abril de 2015
RUA DAS MARGARIDAS / CINZA DOS OSSOS * Antonio Cabral Filho - Rj
CINZA DOS OSSOS
*
Rua das Margaridas
A Rua das Margaridas
Não era a Rua da Praia,
Não era a Rua da Feira,
Não era a Rua Principal
E muito menos
A Rua das Flores.
A Rua das Margaridas
Era a Rua dos Amores,
Era a Rua das Perdidas,
Era a rua onde as mulheres
Encontravam “vida fácil.”
A Rua das Margaridas
Era a rua onde os homens
Temperavam seus suores
No sal do prazer sem lei,
Era a rua onde os velhos
Beliscavam as mulheres
E apanhavam sem pudor,
Era a rua onde a molecada
Jorrava sonhos eróticos
E acordava melecada.
A Rua das Margaridas
Nunca teve sua história
Cantada em verso ou em prosa,
Mas por causa de um PM
Que matou uma prostituta,
O mundo inteiro se chocou...
A Rua das Margaridas
Não tinha esse nome não;
Quem lhe deu esse apelido
Foi o Doca, meu irmão.
A Rua das Margaridas
Sabia de nossas vidas...
Hoje, a Rua das Margaridas
Virou um cartão postal.
*
domingo, 26 de abril de 2015
Poetando A Quatro Mãos / CINZA DOS OSSOS * Antonio Cabral Filho - Rj
CINZA DOS OSSOS
*
Poetando a Quatro Mãos (*)
A tarde está cinzenta
Qual alma a vaguear,
Acendo um Hollywood,
Mil sonhos a tragar.
Sento, sinto silêncio,
Não sei o que escrever,
Cansaço bate no peito,
Mulher, não sei que fazer.
Releio o que escrevi
Numa tarde cinzenta,
Sem saber o que se inventa
Sem se ter pra onde ir.
Se busco, busco e busco,
Perdido na multidão
Na poesia me encontro,
Mergulho com decisão.
· Poema escrito em parceria com Semíramis Reis.
*
sábado, 25 de abril de 2015
sexta-feira, 24 de abril de 2015
QUINTAIS DA REALEZA / CINZA DOS OSSOS * Antonio Cabral Filho - Rj
CINZA DOS OSSOS
*
Quintais da Realeza
O rei à janela
Festeja o pavonear do pavão
Desfilando entre as fêmeas,
Soltando pavoneios...
O pavão espia de soslaio
O festejo do rei à janela
E confere seu harém,
Enquanto o escravo à distância
Encostado à vassoura,
Balbucia entre dentes:
- Quem recheia a panela hoje?
*
quinta-feira, 23 de abril de 2015
TRANSE / CINZA DOS OSSOS * Antonio Cabral Filho - Rj
CINZA DOS OSSOS
*
Transe
É o inusitado, o insólito,
Que de repente acontece,
Vem à tona, salta
de detrás das pálpebras,
surge das manchas escuras
dos piscares de olhos
e sobe às alturas,
dominando as atenções
e deixa todos estarrecidos,
presos ao magnetismo do momento.
Aí esquecem de tudo
E saem tropeçando
em suas próprias sombras,
caindo e se machucando,
insensíveis
como a multidão em fuga.
*
quarta-feira, 22 de abril de 2015
ME DISSERAM / CINZA DOS OSSOS * Antonio Cabral Filho - Rj
CINZA DOS OSSOS
*
Me Disseram
Eu menino me disseram
Que eu era HOMEM
Com todas as letras maiúsculas,
Que eu teria uma mulher
Com a qual me casaria
E seríamos felizes para sempre.
Porém, eu descobri
o AMOR e a LIBERDADE
E percebi que o amor é solteiro
E a liberdade não se casa com ninguém.
Em seguida me disseram
Que todos tinham religião
E me venderam um deus
A que eu seguiria para sempre.
No entanto, eu notei
Que haviam muitos templos
Tantas tendas onde comprar-se um deus
Que eu desisti
E fui tachado de ateu.
Depois disseram-me
Que todos tinham ideologia
E venderam-me um partido
No qual eu ingressaria
E S P O N T A N E A M E N T E
E a ele serviria enquanto eu quisesse.
Tornei-me então violento ativista
Mas constatei que todos tinham que ser iguais
E que ser a si próprio era impossível,
Até que um dia me avisaram
Que eu estava fora do partido
E que eu não era comunista.
Desde então venho notando
Que todas as coisas têm um preço
E que eu não posso comprar nada
De tudo que tentam vender-me,
E mesmo assim
O show business
Não quer deixar-me em paz
Por onde quer que eu passe.
Como é possível
Numa mesma praça
De um lado um religioso
Fantasiado de Cristo
Servindo paz celestial
E do outro um Tartufo
Em comício eleitoral
Ofertando Streep-tease
Em troca de voto?
Agora restou a pecha:
Dizem que sou anarquista.
*
terça-feira, 21 de abril de 2015
Respostas De Um Operário Que Lê / CINZA DOS OSSOS * Antonio Cabral Filho - Rj
CINZA DOS OSSOS
*
Respostas de um Operário que Lê
Eu é que cultivo a terra
E a colheita é do patrão.
Eu é que levo carretas de alimentos
Para encher supermercados
E é meu o estômago roendo de fome.
Eu é que produzo os carros de luxo
Que deslizam nas ruas deste país
E eu é que morro no ônibus batido
Ou no trem descarrilado.
Eu é que construo os arranha-céus desta cidade
E eu é que moro no casebre do alto da favela.
Eu é que faço a segurança das mansões
E eu é que sou roubado
Por um pobre mais pobre que eu
Que leva meu bujão de gás
Ou meu dvd de promoção
E troca por uma pedra de craque.
Eu é que ergo tantos hospitais
E na hora do meu infarto
Eu é que morro sem atendimento.
Eu é que forneço tantos homens aos exércitos
Mas na hora do meu grito
É minha a revolta que eles sufocam.
Eu é que sou o motivo do aplauso
No discurso dos meus líderes
E eu é que sou proibido
De subir ao palanque
Porque sou analfabeto.
Eu é que faço tantas perguntas
E também sou eu que fico sem respostas...
Até quando?
*
segunda-feira, 20 de abril de 2015
Poema Do João Tim / CINZA DOS OSSOS * Antonio Cabral Filho - Rj
CINZA DOS OSSOS
*
Poema do João Tim
O poço fundo forrado de musgo
E cheio d’agua
Não reflete nem revela
O rosto do homem
Alheio
Ao que se passa em Soweto
Entre Zulus e Inkatas
Na terra de Mandela,
Alheio
A lutas separatistas
Entre povos de algum país europeu
E desconhece existência e situação
De povos árabes e indochineses
Nos anos noventa do século vinte.
Sequer imagina
O que seja América Latina
Com seu mundo de classes
Em que se dividem os homens.
Lá
No fundo vale
Sentado sobre uma pedra
À margem do poço
Cercado de bananeiras
O homem alheio a tudo
Esfrega sabão de barra
Em sua roupa suarenta.
O vento brinca
Nas folhas secas e sacode as árvores
Algo desperta
O velho e alheio lavrador
Um barulho sorrateiro
Nas folhas do bananal misturado ao som do vento
Não é um assassino
Nem um guerrilheiro
De alguma montanha latinoamericana não.
É uma cascavel
Se camuflando
para jantar algum animal
que venha beber água...
Chegou a hora de cortar fumo
E fazer o cigarro de palha
Para espantar essa fera...
*
domingo, 19 de abril de 2015
Elegia Da Preta Efigênia / CINZA DOS OSSOS * Antonio Cabral Filho - Rj
CINZA DOS OSSOS
*
Elegia da Preta Efigênia
Morreu a doceira da esquina
Da esquina da rua principal
Com a avenida central.
Morreu a Preta Efigênia
Mulher do João Salvador
Mãe de dezessete filhos
Avó de trinta netos
E bisa não sei de quantos.
Morreu de coma diabética
E ainda veio a saber-se
Que era empregada doméstica
Na casa de um doto
Desses de cargo importante
Num ministério desses.
Mas morreu a doceira da esquina
Morreu a Preta Efigênia
Morreu de como diabética
No hospital municipal
Por falta de atendimento
E deixou João Salvador
Sem a Preta Efigênia
Doceira e empregada doméstica
Na casa de um doto desses
Sem José e sem Dummond
Pra romantisar sua dor.
Agora João, chora seu banzo,
Mas não vai ficar por aí
Se afogando no copo
De cabeça ao vento
Pensando que a nega
Mudou de ponto.
Dá um breque, nego.
Morreu a Preta Efigênia.
*
sábado, 18 de abril de 2015
sexta-feira, 17 de abril de 2015
NOTÍCIA DE ONTEM / CINZA DOS OSSOS * Antonio Cabral Filho - Rj
CINZA DOS SSOS
*
Notícia de Ontem
O Pé-de-Cana
Foi à esquina
E fechou o boteco,
Depois saiu
Batendo cabeça
Como uma vaca
Em noite de tempestade.
Na manhã seguinte
Todo o bairro soube
Que o Pé-de-Cana
Estava estirado
No meio da rua.
Não tinha morrido não.
Apenas curtia seu porre
Em profundo sono etílico.
*
quinta-feira, 16 de abril de 2015
TEDIÁRIO / CINZA DOS OSSOS * Antonio Cabral Filho - Rj
CINZA DOS OSSOS
*
Tediário
Minha história
Tu sabes de cor,
Todo dia eu chego
Com meu cansaço de sempre
E te encontro cheia de amor
E teu beijo sempre mais quente
Me devolve as energias.
Aí a gente avalia o nosso dia
E chega à conclusão do dia anterior,
Que não tem nada de novo.
A gente janta e vai dormir
E de manhã te conto
Os sonhos malvados que tive contigo
E tu me contas os teus,
Então combinamos de realizá-los
À noite quando eu chegar.
Mas é como tu já sabes,
O meu dia foi pesado,
Eu chego arreado,
Sem poder dar-te carinho.
E dia após dia
Durante a nossa vida
É isso...
Até já decidimos dar um basta nisso e...
Ninguém sabe como
Quem sabe fugir
Para uma ilha distante
De tudo e de todos
E relaxar...
*
quarta-feira, 15 de abril de 2015
NAVELUA / CINZA DOS OSSOS * Antonio Cabral Filho - Rj
CINZA DOS OSSOS
*
Navelua
Vinte e três horas,
Noite de lua cheia,
Primavera de mil novecentos
E noventa e oito,
O corpo cansado
Insiste em mostrar-se jovem,
Quer dançar rock,
Lambada e tenta...
Há uma mulher que vive(?) ao meu lado,
Diz que me ama(?), me admira,
Fica encantada comigo dançando
E quer dançar também...
As crianças se emocionam
E todos juntos dançamos
Agarrados uns aos outros
Numa alegria fugaz...
Creio que todos fomos abduzidos
Pelos poderes místicos
Da noite enluarada
E sem mais nos vimos dançando na rua,
Mas acabou-se a música e nos sentamos ao chão
Com as crianças entre nós...
Aí meu filho olhou para a lua
E perguntou pensativo:
- Eu posso entrar dentro dela pai?
*
terça-feira, 14 de abril de 2015
CÃO SEM DONO / CINZA DOS OSSOS * Antonio Cabral Filho - Rj
CINZA DOS OSSOS
*
Cão Sem Dono
Hoje,
Eu não consigo ler poesia
E suspiro exausto com o livro
De qualquer poeta.
Hoje,
Eu não alugo a minha cabeça
Para aturar o porre de ninguém
E me fecho como aranha
Que prepara o bote
Pra pegar a mosca
Desatenta que a rodeia.
Hoje,
Eu não consigo ficar parado
Olhando a paisagem
Entumecida de contradições
À espera de mudanças no cenário.
Hoje,
Eu não vou esperar que as pedras
Rolem pelo caminho em busca do limo
Até encontrarem-se ao sabor do acaso,
Se acaso existe...
Hoje,
Eu tenho que sair danado
Sem bagagem e despedida
Como um cão sem dono
E farejar o mundo
Atrás de um osso pra roer.
*
segunda-feira, 13 de abril de 2015
domingo, 12 de abril de 2015
TOCAIA / CINZA DOS OSSOS * Antonio Cabral Filho - Rj
CINZA DOS OSSOS
*
Tocaia
Espero em silêncio
Como fera domada
Ante o seu senhor.
Olho ao redor,
O mundo é cinzento e indiferente
Às mortes, nascimentos, abortos,
Fluxos menstruais, orgasmos...
Fico extasiado:
Nem alegria nem tristeza.
Estado indefinido...
Apenas o silêncio à minha volta
E espero silente,
Como fera domada,
Mas pronta pra dar o bote
Na jugular do domador.
*
sábado, 11 de abril de 2015
INOCÊNCIA / CINZA DOS OSSOS * Antonio Cabral Filho - Rj
CINZA DOS OSSOS
*
Inocência
Todos me matam
E eu tenho por dever
Que agradecer a todos
Pela parcela de morte
Que me fornecem
Nos anticoncepcionais
E nas balas, pedidas ou não.
Assim sou aquele
Que tomba a todo instante
E que é encontrado arrastando
Os seus próprios restos
Por entre os escombros
De nossas aventuras,
Mas que por desconhecer
A própria fragilidade,
Desconhece também o medo...
*
sexta-feira, 10 de abril de 2015
Do Pobre Arlequim / CINZA DOS OSSOS * Antonio Cabral Filho - Rj
CINZA DOS OSSOS
*
Do Pobre Arlequim
Nasci ao sopé das montanhas,
Lá onde terminam os bosques
E as florestas se adensam.
Bem cedo aprendi a brincar
Com os habitantes desse mundo
Onde reinam Sacis e Iaras.
Ainda menino fui pras cidades
Sem seio de mãe nem ombro de pai,
Órfão de noite e de dia.
Segui sempre o senfim dos caminhos
E a poeira das estradas
Tingiu de vermelho os meus sonhos.
E o ronco do motor dos caminhões
É que ninou a soneca do menino
À sombra dos arbustos solidários.
Meu prato requentado e rápido
Eu soube sempre o seu sabor de sal
Temperado de relento e sol.
Na cidade sou um peixe fora d’agua
E vez por outra ponho-me frente aos bares
Perscrutando por que essa gente bebe tanto.
O meu amor não sabe o pranto
Tão fartas comigo foram as mulheres francas
Em darem-se inteiras e detalhes tantos.
Não prometo ser algum dia um gentleman,
Mas eu não mijo calçada a fora
Após uns chopes com steinhägen.
*
quinta-feira, 9 de abril de 2015
SONO PROLETÁRIO / CINZA DOS OSSOS * Antonio Cabral Filho - Rj
CINZA DOS OSSOS
*
Sono Proletário
Viajo incômodo
No banco do ônibus
E logo me vejo vergado pelo sono,
Sono insólito
Surgido das penumbras do cansaço
Que com seu ataque súbito
Domina todo meu ser
E me conduz involuntário
A ouvir seu som de flauta.
Sinto inútil a luta que travo
Contra o poder do seu feitiço,
E vencido vejo-me
Ante um anjo de neve.
Ensaio a fuga e de várias direções
Surge o anjo insinuando-se pra mim
Com suas asas imensas.
De fronte erguida e olhar distante,
Noto que avanço por uma rua molhada
Calçada de pedras portuguesas,
E inesperadamente afundo o pé na lama
E o anjo põe-se diante de mim.
Percebo seu semblante pedindo-me
calma...
Súbito ouço um barulho,
É o cobrador comunicando o fim da linha
E concluo que a poesia é assim mesmo:
Um ser intrépido e sem forma
Que nos ataca sem aviso prévio
E faz-nos prisioneiros
De emoções estranhas.
*
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